Quatro anos até dar nome à dor: por que tumor em jovem do RS levou tanto tempo para ser diagnosticado

  • 06/07/2025
(Foto: Reprodução)
Conheça a história da paciente oncológica Bruna Gettert. A jovem de Caxias do Sul usa as redes sociais para compartilhar rotina e experiências. Paciente oncológica usa redes sociais para compartilhar rotina e experiências Por quase quatro anos, Bruna Gettert percorreu consultórios, emergências e passou por exames invasivos em busca de respostas que nunca vinham. Ou pior: vinham erradas. 📲 Acesse o canal do g1 RS no WhatsApp Somente no ano passado, depois de desmaios e internações, a jovem de 24 anos, moradora de Caxias do Sul, na Serra do RS, descobriu o nome da dor que a acompanhava desde 2020: tumor neuroendócrino bem diferenciado de grau 2. Entenda, abaixo, o que levou a demora do diagnóstico de Bruna: Como tudo começou Quando as primeiras dores apareceram, Bruna tinha 20 anos. Era dezembro de 2020, e o mundo inteiro ainda tentava entender como sobreviver à pandemia, mas a jovem vivia uma angústia muito particular: sentia azia constante, dores abdominais, cólicas, um incômodo estranho ao se alimentar e uma perda de peso que chamava atenção. Ela buscou ajuda em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde recebeu medicamentos para aliviar sintomas, mas saiu sem diagnóstico. "Por ser período de pandemia, eles estavam naquele pico que a gente sabe que tudo estava acontecendo", relembra. Começava ali uma travessia de quase quatro anos até que a dor recebesse um nome. Enquanto os sintomas se multiplicavam — dificuldade para engolir, sensação de comida trancada, vômitos, febres, fraqueza, sangramentos — as justificativas variavam: "gastrite nervosa", "efeito da medicação", "ansiedade", "estresse". Bruna relembra que chegou a perder 10 quilos em dois meses desde o início dos sintomas. A jovem fez endoscopia, ecografia, retirou a vesícula, tratou uma bactéria estomacal. Nenhuma dessas intervenções trouxe melhora. E, segundo ela, nenhuma das equipes por onde passou aprofundou as investigações sobre o quadro clínico. Os médicos chegaram a indicar tratamento psiquiátrico, de acordo com a paciente. Foi então que começou a tomar remédios para ansiedade e antidepressivos. "Me encaminharem para o psiquiatra por justamente acharem que era uma questão muito mais emocional do que física, que a minha dor era algo emocional", conta. Até que, em janeiro de 2023, durante um concurso público, ela desmaiou: "Eu tinha tomado só um achocolatado para o concurso, porque estava sem fome e estava muito quente. Minha pressão baixou, imaginei que era devido ao calor", conta. "No dia seguinte, eu não tinha mais força nem para trocar de roupa, aí fui para a emergência", comenta. Na emergência, ela relata que foi atendida por um dos primeiros médicos que a escutou com atenção. O profissional solicitou exames de sangue, e os resultados apontaram anemia grave. Ao relatar que também estava com dificuldade para ingerir alimentos e líquidos, o profissional chamou um endoscopista e determinou a internação imediata da paciente. Durante o procedimento, o médico identificou uma massa pressionando a entrada do estômago. O material coletado foi enviado para biópsia. Cinco dias depois, o primeiro diagnóstico apareceu: tumor estromal gastrointestinal, conhecido como GIST, que é um tipo raro de câncer do trato digestivo. Com o diagnóstico, Bruna iniciou o tratamento com quimioterapia oral ao longo de 2023. No entanto, a medicação inicial não teve efeito. Após algumas internações por hemorragia, os médicos trocaram a quimioterapia por outro tratamento. Dessa vez, houve melhora: o tumor reduziu de tamanho, passou de 10cm para cerca de 6,5cm. Porém, ao final de 2023, a nova medicação começou a provocar efeitos colaterais: febres, sangramentos no nariz e na gengiva, dores intensas, sinais de toxicidade hepática. "Eu passei a virada de ano internada, entre 2023 e 2024", relembra. Foi nesse momento que os médicos recomendaram procurar uma segunda opinião, desta vez em Porto Alegre. No hospital, ela consultou uma equipe especializada, que solicitou uma revisão detalhada das biópsias. Foi nesse processo que veio a surpresa: um laudo antigo, feito em 2023 e que descartava o primeiro diagnóstico (GIST), nunca tinha chegado até ela nem aos médicos que a acompanhavam. "Um mês depois que eu tinha feito a solicitação para o laboratório, eu recebi a resposta de que eles não poderiam me fornecer esse painel, que eles iam reembolsar o valor, porque tinha um outro laudo que descartava esse tipo de tumor. A gente não sabe [o que aconteceu]. A gente não sabe se o laboratório não enviou para médico, ou se ele mandou e se perdeu. Ficou uma incógnita referente a isso", conta. Com a desconfiança instalada, Bruna resolveu levar o material para outro laboratório. Foi aí que veio o diagnóstico correto: tumor neuroendócrino bem diferenciado de grau 2, localizado na região do pâncreas, curvatura gástrica e serosa hepática. Bruna Gettert, paciente oncológica, com efeitos colaterais da doença Arquivo pessoal/ Bruna Gettert O tumor Os tumores neuroendócrinos são um tipo de câncer que pode aparecer em várias partes do corpo, como intestino, pâncreas e pulmão. Eles se formam a partir de células chamadas neuroendócrinas, que têm funções especiais no organismo. Alguns crescem devagar, outros mais rápido, o que depende do tipo e do grau do tumor. No caso da Bruna, o diagnóstico foi de um tumor neuroendócrino bem diferenciado de grau 2. Isso significa que ele tem crescimento intermediário: nem tão lento quanto o grau 1, nem tão rápido e agressivo quanto o grau 3. De acordo com a médica oncologista Emily Tonin, que acompanha o caso de Bruna, quando um tumor neuroendócrino é diagnosticado precocemente, pode ser tratado com cirurgia, o que pode oferecer chance de cura. No entanto, no caso da Bruna, a doença já estava em estágio avançado, com metástases. "Nessa situação, adotamos um tratamento oncológico de caráter paliativo, ou seja, com o objetivo de controlar a progressão da doença, aliviar os sintomas e preservar sua qualidade de vida. Atualmente, ela está em tratamento com um esquema de quimioterapia utilizado em tumores neuroendócrinos pancreáticos", explica a médica. De acordo com a oncologista, os tumores neuroendócrinos de pâncreas representam menos de 3% dos tumores pancreáticos. No entanto, a chance de sobrevida depende de diversos fatores: grau histológico, carga tumoral, extensão da doença e resposta ao tratamento. "Embora não haja um único número que se aplique a todos os casos, estudos mostram que pacientes com tumores bem diferenciados podem ter sobrevida prolongada, especialmente quando tratados com equipe multidisciplinar e com acesso a terapias adequadas", comenta. A vida além do tumor Bruna Gettert, paciente oncológica, com e sem efeitos colaterais aparentes da doença Arquivo pessoal/ Bruna Gettert Apesar de todos os desafios, Bruna não parou de estudar. Está cursando Administração à distância. "Até tinha pensado em trancar, mas eu pensei: 'se eu não tiver alguma coisa pra ocupar a minha cabeça nesse meio tempo, eu vou surtar'. Então, alguma coisa eu tenho que continuar fazendo para sentir que eu tenho uma vida normal ainda", comenta. Ela relata que também encontrou propósito nas redes sociais. Criou um perfil no TikTok onde compartilha sua rotina de tratamento, efeitos colaterais, dúvidas e descobertas: “Ao mesmo tempo que sinto que estou ajudando outras pessoas que acabaram de descobrir o diagnóstico ou que têm uma caminhada que acabou de descobrir o diagnóstico e tá, tipo, naquela angústia, eu também me sinto ajudada por não me sentir sozinha", destaca. Ao falar sobre o passado, a jovem manda um recado à Bruna de 2020: "Diria para ela parar de se preocupar tanto com o futuro, porque eu era muito ansiosa e queria fazer tudo e tanta coisa. Diria para aproveitar os momentos e as coisas agora", revela. A médica que a acompanha resume o que a jornada representa: "Mesmo diante de um diagnóstico desafiador, a Bruna mantém o olhar esperançoso e participa ativamente das decisões sobre seu cuidado. Ela nos lembra que o tratamento oncológico envolve escuta, vínculo e respeito à individualidade", comenta. Tratamento hoje em dia Atualmente, Bruna está no terceiro tratamento específico para o tipo de tumor que tem. Ela está fazendo quimioterapia oral combinada, com comprimidos fortes e em esquema complexo: 10 dias com 4 comprimidos por dia, depois 5 dias com 8 comprimidos por dia. A nova medicação começou após uma pausa de cerca de quatro meses, feita a pedido dela por desgaste físico e emocional. No entanto, durante essa pausa, a doença cresceu um centímetro, o que levou à mudança de protocolo. Bruna tenta se manter com as opções com cobertura prevista no plano de saúde. O próximo possível tratamento seria particular, sem cobertura do SUS ou convênio. VÍDEOS: Tudo sobre o RS

FONTE: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2025/07/06/quatro-anos-ate-dar-nome-a-dor-por-que-tumor-em-jovem-do-rs-levou-tanto-tempo-para-ser-diagnosticado.ghtml


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