Exportação de café têm prejuízo de R$ 5,9 milhões em um mês; Porto de Santos lidera problema
11/10/2025
(Foto: Reprodução) Afinal, café bom vai todo pra fora do Brasil?
O setor de exportação brasileira de café sofreu um prejuízo de R$ 5,9 milhões em um único mês. Segundo levantamento realizado pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o cenário é reflexo da impossibilidade de embarque de mais de 624 mil sacas do produto nos portos brasileiros, sendo a maioria correspondente ao complexo portuário de Santos, no litoral de São Paulo.
De acordo com o Cecafé, os dados são referentes ao balanço do mês de agosto. O prejuízo de R$ 5,9 milhões é fruto dos custos com armazenagens adicionais, pré-stacking (armazenagem antecipada) e detentions (multa diária cobrada quando o contêiner não retorna ao terminal no prazo acordado) devido à impossibilidade de embarque de 624.766 sacas, que correspondem a 1.893 contêineres.
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Segundo o balanço, 491.731 das sacas são do Porto de Santos, o maior do Brasil. O número representa 78,7% do total de cargas não embarcadas no país em agosto (veja tabela abaixo).
Cargas de café não embarcadas em agosto
Sem receita cambial
De acordo com o Cecafé, o não embarque do café impediu que o Brasil recebesse US$ 221,28 milhões, ou seja, R$ 1,205 bilhão, como receita cambial nas exportações. O valor leva em consideração o preço médio Free on Board (FOB) de exportação de US$ 354,18 por saca de café verde e a média do dólar de R$ 5,4463 no mês passado.
Cenário preocupante
Segundo o conselho, a impossibilidade de embarque que reflete em prejuízos aos exportadores é causada por gargalos na logística e pela defasagem na infraestrutura portuária do país.
Para o diretor técnico do Cecafé, Eduardo Horen, o cenário deve piorar nos próximos meses caso não haja investimentos nos complexos portuários do Brasil, pois a tendência é que os portos estejam cada vez mais lotados, com atrasos nas embarcações.
“O agronegócio cresce a taxas expressivas, mas a infraestrutura portuária e a ampliação na diversificação de modais de transporte do país não acompanham essa evolução”, afirmou o especialista. Ele diz que prejuízo é ainda maior para exportadores que trabalham com cargas que dependem de contêineres.
Somente agosto de 2025, 67% dos navios tiveram atrasos ou alteração de escalas no Porto de Santos. O número envolve 122 do total de 182 porta-contêineres. Ainda no complexo portuário santista, o tempo mais longo de espera foi de 47 dias.
Prejuízo na exportação de café é reflexo da impossibilidade de embarque de mais de 624 mil sacas do produto nos portos brasileiros
Divulgação/Cecafé
O que fazer?
Segundo Horen, o Cecafé tem realizado contato com outras entidades de exportadores e autoridades público-privadas para apresentar os dados considerados preocupantes e estimular melhorias.
Um ponto extremamente importante para o diretor é o leilão do maior terminal de contêineres do Brasil, o Tecon Santos 10. Segundo ele, as restrições ao certame propostas pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ) limitam a ampla participação no processo licitatório.
“A morosidade e a restrição de empresas ao certame, deliberado pelo colegiado da Antaq, incorrerá na judicialização do processo e atrasará, ainda mais, a oferta da capacidade aos usuários do Porto de Santos, o que, certamente, ampliará os prejuízos ao comércio exterior brasileiro”, explicou Eduardo Horen.
De acordo com o diretor técnico do Cecafé, a expectativa é que o leilão do Tecon Santos 10 seja realizado em uma única fase e sem restrição.
“Que avancemos nesse tema, de forma definitiva e célere, e tenhamos a adequada oferta de capacidade o mais breve possível”, afirmou Horen, explicando que os exportadores acabam “pagando a conta pela ineficiência portuária”, gerando menos receita ao Brasil.
Tarifaço dos EUA
Para Horen, o tarifaço dos Estados Unidos não tem relação com o prejuízo relatado pelo Cecafé, pois não tem impacto direto no atraso ou alteração de escalas de navios para exportação de café.
“Esse problema decorre, de fato, da defasagem da infraestrutura portuária no país, a qual, conforme o Cecafé vem noticiando há tempos, tem impossibilitado o embarque de milhares de sacas e contêineres com café”, garantiu.
Segundo ele, as taxas impostas pelo governo Trump refletiram somente no menor volume exportado de café aos EUA, que é o maior importador do produto nacional e que deteve a participação média de 15% a 16% de nossos embarques nos últimos dois anos.
O que diz a APS?
Responsável pela infraestrutura pública do Porto de Santos, a Autoridade Portuária de Santos (APS) informou que cuida da manutenção dos cais, sistema aquaviário (canal de navegação, berços de atracação e bacias de evolução) e malhas rodoviária e ferroviária para que terminais e usuários tenham melhores condições de realizarem serviços.
Em nota, a APS ainda ressaltou que o complexo portuário tem registrado recordes sucessivos de movimentação de cargas, mostrando, portanto, resiliência diante das crises logísticas mundiais e das dificuldades naturais. “Especialmente severas na região da Baixada Santista, sujeita a neblinas constantes, chuvas torrenciais e ressacas”.
Tecon 10 e profundidade
A Autoridade Portuária informou também que, a médio prazo, o Porto de Santos terá a capacidade de movimentação de contêineres aumentada com a implantação do terminal Tecon Santos 10.
Além disso, o porto santista terá o aumento da profundidade do canal de navegação para 16 metros e, depois, para 17 metros. Desta forma, os demais terminais poderão ampliar a capacidade de movimentação, pois navios de maior capacidade poderão atracar com toda a capacidade de carga sem precisar aguardar condições favoráveis de maré.
"É uma obra que já iniciou, com derrocamento de rochas no fundo do estuário, para permitir o aprofundamento, e a licitação para contratação da dragagem. Há mais de dez anos que não havia obras de aumento do canal de navegação”, explicou a APS.
A APS afirmou ainda que tem planejado o aumento da capacidade do complexo portuário, com ações como a ampliação da poligonal de 7,8 milhões de m² para 20,4 milhões de m².
“O Porto tem hoje em andamento investimentos em logística que vão da reforma, ampliação e recuperação das vias perimetrais, com a construção de dois viadutos em convênio com a concessionária das rodovias estaduais, ao aumento das linhas férreas, com novos trilhos e uma pera ferroviária, além de passarelas para pedestres e melhorias nos cruzamentos em nível”.
A curto prazo, a APS pretende aumentar a transparência das informações referentes aos navios, publicando uma espécie de rastreio das embarcações programadas, informando a localização dos navios com destino ao Porto de Santos. Segundo a autoridade portuária, a ação poderá facilitar o planejamento de envio da carga para o exportador.